- Início
- Viver
- Comunicação e Imagem
- Notícias em Destaque
- Vencedora do Prémio Nacional de Ilustração defende abordagem de temas “menos delicodoces” junto das crianças
Vencedora do Prémio Nacional de Ilustração defende abordagem de temas “menos delicodoces” junto das crianças
Catarina Sobral recebeu este sábado, 12, o Prémio Nacional de Ilustração, atribuído pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), antes da cerimónia de inauguração da PIM! IX Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo, no FÓLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos. A autora e ilustradora de “Fantasmas, Bananas e Avestruzes” aproveitou a ocasião para usar um lenço axadrezado (keffiyeh) como forma de se posicionar a favor da libertação da Palestina, no dia em que milhares de pessoas se manifestaram nas ruas de Lisboa, para exigir a paz no Médio Oriente.
“Este prémio é um ótimo reconhecimento deste trabalho específico, mas também de toda a coleção Democracia, com as três nomeações, o que espelha muito bem a necessidade de informar os mais pequenos sobre temas menos delicodoces”, afirmou Catarina Sobral.
A autora fez, assim, alusão às menções especiais, atribuídas a Rachel Caiano, pelas ilustrações do livro “E se fossemos a votos?”, de Luísa Ducla Soares, e a Mariana Rio, pela ilustração de “Leva-me ao teu líder”, da autoria de Afonso Cruz.
Silvestre de Almeida, diretor da DGLAB, explicou que o júri atribuiu o prémio a Catarina Sobral pela “grande segurança na maneira como desenha”, e pelo “rigor expressivo das figuras”. “A linguagem visual de Catarina Sobral alastra por patamares de cada vez maior exigência, afirmando uma consistente estrutura intelectual. Estamos no território da grande ilustração com atitude. Este livro é um objeto cuidado, desde a escolha apurada do papel, ao próprio formato utilizado”.
A atribuição de uma menção especial a Rachel Caiano foi justificada por Silvestre de Almeida com a “inovação das ilustrações”, sem perder a identidade. “Há uma compreensão do ambiente envolvente, que resultou num conjunto de ilustrações que causam surpresa”, disse.
Em relação a Mariano Rio, o júri considerou que “continua um trabalho consistente, com uma linguagem prática e cromática, que mantém uma ligação ao trabalho analógico da matéria”.
O diretor da DGLAB adiantou que concorreram ao Prémio Nacional de Ilustração 65 obras da autoria de 56 ilustradores. “Isto revela que há um dinamismo crescente na área da criação artística e literária”, comentou. A ocasião foi ainda aproveitada para recordar o administrador da Ler Devagar e mentor do FÓLIO. “O José Pinho continua a estar connosco, e a desorganizar aquilo que achamos que já está desorganizado ou está por organizar”.
Celebrar a democracia
“O prémio foi entregue à democracia, e ela tem de ser celebrada todos os dias”, acrescentou Mafalda Milhões, curadora do FÓLIO Ilustra.
As três obras distinguidas foram editadas pela Assembleia da República, na coleção Missão: Democracia. Em representação da editora, Teresa Paulo referiu que os livros desta coleção são dedicados a temas que considerou “preocupantes”, e disse que pretendem contribuir para o desenvolvimento da literacia democrática. “E isto é só o início”, prometeu.
Bruno Matraste é o artista que tem mais destaque, ou seja, que “sobe às paredes” na edição deste ano da PIM!. Presente na cerimónia de inauguração, contou que fez questão de visitar o escultor José Aurélio antes de pôr mãos à obra. “É sempre uma responsabilidade quando estamos no espaço de outra pessoa”, observou, em alusão à Galeria Nova Ogiva, onde decorre a PIM!
Destacou ainda as mãos em cartão, com pequenos slogans, inspiradas na escultura “A Mão”, da autoria deste escultor, à entrada da vila. “Não quero pintar mais placas” foi a que elegeu.
Em relação à exposição, Mantraste lembrou que as pessoas não veem o mais importante: “o trabalho todo por trás disto”. Satisfeito por ter partilhado o trabalho com outros ilustradores, disse que tentou “fundir as ideias” com os textos de Isabel Minhós Mendes, que também “sobem às paredes”, e fazer parte das manifestações propostas pelos 67 ilustradores nacionais e internacionais. “O FÓLIO é o melhor festival do Oeste.”
Mafalda Milhões adiantou que o vários cartazes, patentes na exposição, constituem convocatórias para manifestações, desde o 24 de Abril até ao ano 1125. “As inquietações podem ser minúsculas, e talvez sejam essas que nos fazem mais danos”, observou. “Esta curadoria toca desde as guerras à saúde mental, e torna esta casa numa casa de pensar muito séria”, sublinhou. Este ano, os artistas foram desafiados a transformar as suas inquietações em manifestações, através de cartazes, palavras de ordem, dia, hora e local.