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Secretária de Estado anuncia em Óbidos recolha de contributos para adoção de medidas na área da inclusão
Clara Marques Mendes, secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão, afirmou, esta quinta-feira, em Óbidos, que o Governo vai reunir, em breve, com várias organizações ligadas à temática da inclusão, para recolher contributos para a adoção de medidas nesta área. A revelação foi feita na sessão de abertura do seminário “A inquietação da leitura para Tod@s”, integrada na programação do FÓLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos.
“Estamos a trabalhar num conjunto de matérias de inclusão, e queremos ouvir várias organizações que, no dia a dia, trabalham com estas áreas e temáticas, para nos ajudarem a perceber onde podemos fazer mais e melhor”, explicou a secretária de Estado da Inclusão.
Consciente da necessidade de “dar respostas integradas”, assumiu que há medidas que não dependem apenas do dinheiro, mas da vontade política, e da articulação entre todos.
Intervir em edifícios públicos para que se tornem acessíveis a todos, e permitir que qualquer pessoa tenha o direito de assistir a espetáculos, sem dias especiais para o efeito, foram alguns exemplos deixados por Clara Marques Mendes, para tornar a sociedade mais inclusiva.
“Podemos fazer a diferença no país, mas temos de continuar inquietos”, afirmou, em alusão ao tema da edição deste ano do FÓLIO. “Tem sido feito um caminho, mas ainda há um caminho a fazer. E esta inquietação obriga-nos a agir e a fazer diferente”, acrescentou.
“Quando falamos em acessibilidade, não estamos a falar apenas das barreiras físicas, mas de melhorar a situação de empregabilidade para as pessoas com deficiência, para garantir condições para exercerem a sua função como os demais colegas”, sublinhou a governante. Além disso, lamentou que haja jovens que não podem frequentar muitos cursos superiores, porque não têm uma linguagem acessível. “Se não formos inquietos e ambiciosos, não vamos mudar”, observou.
A secretária de Estado felicitou, por isso, o Município de Óbidos, por promover um “festival da inclusão", envolvendo a comunidade e os agentes de várias áreas, para encontrar as melhores soluções para a nossa sociedade. “Este seminário é impactante na vida das pessoas. Estamos a falar de uma matéria que nos toca a todos”, lembrou.
Desconstruir barreiras
Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos, disse estar empenhado em “desconstruir as barreiras para as pessoas com dificuldades”, dando como exemplo a colocação de uma rampa de acesso ao auditório da Casa da Música, onde está a decorrer o seminário. Comprometeu-se ainda a tornar os museus e as galerias da vila acessíveis. O autarca acredita que “todos podem fazer a diferença no mundo, através do respeito pelo outro”, atitude que se tem de ter diariamente.
Apesar de ter destacado o FÓLIO por ser o único festival em Portugal a dedicar um dia à inclusão, Célia Sousa, coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) do Politécnico de Leiria e responsável pelo seminário, manifestou diversas inquietações. Entre elas, o facto de uma parte da população não poder fruir, quando quer, de uma peça de teatro, de uma sessão de cinema ou de um concerto. Ou que os jovens com dificuldades intelectuais não tenham a possibilidade de frequentar o ensino superior, assim como que não exista “legislação clara no ensino superior para pessoas com necessidades específicas”.
As críticas de Célia Sousa foram dirigidas ainda às livrarias e bibliotecas por não terem livros acessíveis, e aos editores por não pensarem a acessibilidade do livro para todos. “Inquieta-me que apenas se fale das pessoas com deficiência para referir a desgraça, ou para falar de algo extraordinário que realizaram”, confessou. “Inquieta-me que a nossa sociedade não olhe para a diversidade humana, como a maior riqueza da humanidade, e continue apenas a olhar para essa diversidade como um problema, quando a capacidade está em todos nós.”