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Prémio Fernando Leite Couto é uma oportunidade para a inclusão social
Francisco Panguana Jr., vencedor do Prémio Fernando Leite Couto, afirmou, este sábado, no FÓLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, que esta distinção é uma “oportunidade de inclusão social” em Moçambique. Autor do romance “Os peregrinos da sobrevivência”, o docente universitário de Português escreve sobre um país em guerra.
No dia em que completa 34 anos, Francisco Panguana Jr. explicou que as “inquietações” que o levaram a escrever este livro foram os “cíclicos conflitos armados” em Moçambique. “Nasci e cresci a ouvir falar de guerra, de luta armada, de Guerra Civil. Estamos sempre em guerra, porquê?”, questionou.
“É consensual que as guerras violam os direitos humanos, e que as mulheres sofrem mais, sobretudo as raparigas”, afirmou o escritor moçambicano. “O texto analisa estes aspectos sociais, políticos e económicos”, explicou. Para expressar as suas preocupações, escolheu como personagem principal a filha. “Comecei a pensar que futuro teria”, confidenciou.
Crítico da guerra, Francisco Panguana Jr identificou-se como um ativista dos direitos humanos e das alterações climáticas. E manifestou-se ainda preocupado com o trabalho infantil, e com o facto de as crianças não irem à escola, para ajudarem a sustentar as famílias. Proveniente de uma família pobre, disse que, durante a adolescência, também era vendedor, mas não faltava à escola.
“Era bom estudante, porque sempre que não tivesse de trabalhar, ficava a ler”, justificou. “Ultimamente, as crianças são vendedoras a tempo inteiro, e não vão à escola”, denunciou. “Estamos a matar o futuro das crianças.” Lamentou ainda que haja meninos de 7 ou 8 anos a pedir esmola. “Onde estão os pais dessas crianças?”
Satisfeito com a existência do prémio, atribuído pela Fundação Fernando Leite Couto, Francisco Panguana Jr. candidatou-se desde a primeira edição, em 2017. “Primeiro concorri com poesia, depois tive o azar de perder o computador e os meus textos, e passei para a prosa”, contou.
Após vencer o concurso, destinado a estimular a produção de obras literárias da autoria de jovens moçambicanos, em língua portuguesa, diz que foi “inundado com pedidos” no Facebook. “Há mais jovens interessados em escrever”, assegurou. “Este prémio é uma oportunidade para a inclusão social.”
Para dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo pai, o poeta Fernando Leite Couto, no apoio aos jovens escritores, Mia Couto e os dois irmãos criaram a fundação com o nome do pai, para possibilitar a publicação de um livro em Moçambique com o valor do prémio. O escritor moçambicano destacou ainda o facto de a obra ser publicada fora do país. “Estar aqui [Óbidos] e ter uma residência literária de um mês, não é uma coisa comum, mas tu mereces”, afirmou, dirigindo-se a Francisco Panguana Jr.
“Óbidos é uma terra que não teve nenhuma hesitação em se juntar a esta iniciativa em Moçambique”, afirmou Mia Couto, agradecendo a “generosidade” do Município e da Câmara do Comércio Portugal-Moçambique (CPM). Rui Moreira de Carvalho, presidente desta instituição, também considerou que “Mia Couto é um homem do mundo”, dimensão reconhecida pela vila literária. “Óbidos está a ficar maior do que nós.”
Nascido em Moçambique, Rui Moreira de Carvalho disse que é um país “encantador” e que está em viragem, em alusão às eleições de 9 de outubro, que deram a vitória a Daniel Chapo e à Frelimo. “O povo quer a Paz e quer caminhar”, sublinhou. O presidente da CCPM tem, por isso, a expectativa que se “abra uma janela” com o novo presidente.
Parceira do prémio Fernando Leite Couto, a Câmara Municipal de Óbidos ofereceu um prémio de 500 euros a Francisco Panguana Jr., assim como uma residência literária, durante um mês, e assegura as suas despesas de alimentação. Filipe Daniel, presidente da autarquia, sublinhou a importância de todos ajudarem estes jovens autores, dando como exemplo o facto de o Município ter enviado livros para uma biblioteca de Moçambique que tinha ardido.