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“A maneira correta de as democracias se preservarem é fortalecer a cultura e a educação”
A melhor forma de fortalecer as sociedades democráticas é ter populações esclarecidas, que possam escolher com base em fatores racionais e não emocionais. A convicção é de Teresa Calçada, ex-comissária do Plano Nacional de Leitura, que esteve ontem, 7 de Setembro, à conversa com Isabel Damasceno, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) e ex-presidente da Câmara Municipal de Leiria, e com Telmo Faria, moderador do debate “O Poder das Mulheres”, no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos.
“Vejo a possibilidade de o populismo tomar o lugar do racional. A maneira correta de as democracias se preservarem é fortalecer a cultura e a educação”, defendeu Teresa Calçada. Nesse sentido, apontou para a necessidade de estar informado, para ter uma opinião crítica, e de lutar contra a desinformação, pelo que ser leitor é fundamental.
A ex-comissária do Plano Nacional de Leitura revelou que, embora a competência da leitura não tenha género, o género masculino lê menos do que o feminino, tanto em Portugal, como na Europa. “É um drama para os rapazes que ficam mais incompetentes”, alertou. “E é mau, do ponto de vista das relações afetivas, porque distorce o modo das escolhas”, acrescentou.
Convidada a comentar a eleição de um candidato no Brasil defensor da mulher submissa, Teresa Calçada considerou “deplorável” que continue a existir discriminação em relação à mulher, que se manifesta mais em momentos históricos de extremismo. “Quando as mulheres perdem mais emprego do que os homens é a discriminação a funcionar. A mulher perdeu dignidade e emancipação. Temos o exemplo claro de trabalho igual, salário diferente. É um problema de educação e de cultura.”
Combater a pobreza
Apesar da “evolução extraordinária que está a ser feita”, Isabel Damasceno admitiu que ainda há muito caminho a fazer. “Temos de combater muitas outras desigualdades, como a pobreza, em que a mulher acaba por ser uma vítima duplamente, pois há mais famílias desintegradas, que as obriga a ter um papel que as afasta do trabalho.”
Na tentativa de combater essa desigualdade, a presidente da CCDRC revelou que qualquer candidatura a fundos comunitários deve verificar se foi cumprida a igualdade de oportunidades, precisamente para valorizar mais as mulheres. Se forem criados mais empregos para mulheres, os projetos têm uma majoração. “É com estas ações que se vai conseguindo inverter alguma coisa, mas falta afirmar uma classe média que está a desaparecer e que faz surgir os extremismos.”
A ex-presidente da Câmara Municipal de Leiria, que ganhou as eleições, pela primeira vez, em 1997, apesar de não ser conhecida, considerou que a competência, adquirida pela formação, e a disponibilidade são as condições essenciais para uma mulher ter sucesso. “Cada vez mais temos mulheres em lugares de chefia e de responsabilidade pedagógica e científica”, sublinhou. “Quando era miúda, nada disto acontecia. Em 40 a 50 anos, tudo se revolucionou, pela transformação da sociedade. Fez-se um caminho notável com base na formação, na aprendizagem e na cultura.”
Adversa à criação de quotas na política, Isabel Damasceno lamenta que ainda haja um “défice muito grande” de mulheres nesta área. “Antes de ser eleita, havia quatro mulheres presidentes de câmara, depois passámos a 11. Agora, são 30 e tal ou 40, tendo descido”, revelou. “As mulheres, muitas vezes, autoexcluem-se. Há um complexo de inferioridade para lugares de exposição pública, pois criam reservas para avançar, enquanto os homens já lá estão a marcar a sua posição.”