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Casa do Pelourinho
A Casa do Pelourinho fica localizada na Rua Direita, em frente à Praça de Santa Maria e ao Pelourinho da Vila.
Os trabalhos arqueológicos decorreram sempre em contexto de obra e atingiram uma certa complexidade, envolvendo fases de sondagem, escavação e acompanhamento. Foram realizados ao longo de 2001 e de 2002.
Entre a segunda metade do séc. XVI e o segundo ou terceiro quartel do séc. XVII, a parte nascente do rés-do-chão do edifício 1 serviu provavelmente como celeiro ou adega da Casa do Pelourinho e as caleiras continuaram em funcionamento. Identificaram-se duas campanhas de obras, que reformularam os espaços existentes à custa de estruturas de utilidade pública. Construiu-se um abrigo para animais.
Paralelamente, formou-se um grande pátio, com o despejo de lixos domésticos e de entulhos provenientes de atividade destrutiva sobre os espaços abandonados. Os lixos domésticos continham uma grande diversidade de materiais, em particular, cerâmicas comuns, vidradas e esmaltadas, faianças e porcelanas, moedas, vidros, vários tipos de fauna, carvões e cinzas. Distinguiram-se produções cerâmicas de origem, portuguesa, espanhola e chinesa. Os entulhos compreendiam argamassas, telhas, tijolos e pedras. Recolheu-se uma estela funerária e alguns elementos arquitetónicos.
Na segunda metade do séc. XVI, ocorreu a destruição parcial do edificado existente: abrangeu o piso superior e a parte poente do rés-do-chão dos edifícios 1 e 2. Esta destruição deve relacionar-se com o estado de conservação das estruturas arquitetónicas. Verdadeiramente, muitas estruturas apresentavam problemas de fendilhação, que resultaram do abatimento de camadas e estruturas subterrâneas, do assentamento diferencial das fundações e, provavelmente, da Ação de eventos sísmicos – as ocorrências de 1504, 1528, 1531 e 1551 destacaram-se pela proximidade do epicentro e pela intensidade da magnitude. Ainda na segunda metade do séc. XVI, o silo 1 deixou de funcionar como fossa para detritos domésticos.
Durante os sécs. XIV e XV, efetuou-se a construção e reformulação dos edifícios 1 e 2. O edifício 1 correspondia a uma casa de habitação simples, com dois pisos e boas áreas; para além do tesouro numismático, apresentava três portais góticos em cantaria, o que indica uma boa capacidade económica por parte dos proprietários. No rés-do-chão, encerrava o celeiro e, presumivelmente, a adega – os silos 2 e 7 foram desativados nos finais do séc. XIV ou na primeira metade do séc. XV. O edifício 2 constituía uma casa de habitação muito simples, provavelmente com dois pisos, mas de áreas reduzidas; tinha um portal gótico em alvenaria de tijolo, denunciando a condição modesta dos proprietários. No rés-do-chão, possuía um silo, uma lareira e uma estrutura de apoio – o silo 6 foi entulhado no final do séc. XIV ou na primeira metade do séc. XV. Entre os edifícios havia caleiras para escoamento de águas pluviais.
Nos sécs. XII e XIII, verificou-se a construção de um celeiro, que relacionámos com a recolha dos direitos da Igreja de Santa Maria sobre as freguesias da paróquia e demais propriedades. O celeiro apresentava sete silos escavados no nível geológico, tendo formas e capacidades diferentes; o silo 3 foi reconstruído no séc. XIII.
Estes trabalhos arqueológicos revelaram grande importância na compreensão do sítio e da sua envolvente, mas constituíram somente uma primeira abordagem arqueológica ao centro da Vila de Óbidos.