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“Estamos a voltar a viver a segunda Guerra Mundial”

O autor francês Michel Eltchaninoff afirmou que “estamos a voltar a viver a segunda Guerra Mundial”, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, e vaticinou que “a guerra vai ser muito longa”, durante uma mesa sobre o Futuro, que decorreu na tarde de dia 22, no FOLIO, em Óbidos.
“Vladimir Putin [líder russo] diz que os dirigentes ucranianos são nazis e está convencido que o país está num momento histórico, que é um messias e que vai salvar o mundo”, declarou Michel Eltchaninoff. “Está a viver uma fantasia ideológica”, observou.
Em relação ao futuro, o escritor francês identificou ainda como problemáticos os problemas ambientais. “Temos de abrandar o mais possível em relação à catástrofe climática e continuar a apoiar o país invadido [Ucrânia]”, defendeu.
Já o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-líder do CDS-PP, Paulo Portas, manifestou preocupação com o facto de a “manipulação política nas redes sociais poder acabar por aniquilar a democracia” e lamentou que “os partidos e as instituições estejam a ficar reféns das redes sociais”. “Um dos talentos do diabo é convencer-te que não existe. Com os nossos dados, conhecem os nossos instintos.”
“O mantra do algoritmo é a hostilidade, ao substituir o que é complexo pelo que é simplificado, e o que é falso por uma presunção da verdade”, acusou o professor de Geoestratégia e comentador televisivo. “Isto pode acabar mal. Há muito mais crispação e discórdia não no sentido democrático, mas pessoal, e os argumentos não têm espessura.”
Especialista no pensamento russo, o autor de obras como “Na cabeça de Putin” e “Lenine foi à lua” disse que “a literatura e a criação russa foram, muitas vezes, de dissidência”. “Os maiores escritores escreveram não só para protestar, mas para contar uma outra verdade diferente da oficial. É uma cultura de resistência sob opressão ideológica”, garantiu. “A Rússia conheceu poucos períodos de democracia. Como todos os povos, aspiram à liberdade, mas é muito difícil, porque estão há muitos séculos sob o poder do autoritarismo.”
A propósito do livro “Na cabeça de Putin”, os dois oradores debateram o conceito de cosmismo, que se baseia na ideia de imortalidade e de ressuscitar os mortos. “Vladimir Putin tem pessoas do seu ambiente que adoram o cosmismo, mas a igreja ortodoxa considera o cosmismo uma heresia”, contou Michel Eltchaninoff. “É por isso que Putin não fala nisso. Tem 71 anos, faz uma hora de exercício por dia e está muito interessado na longevidade.”
“A Rússia é plana, ampla, sem igual, o que faz com que os espíritos vagueiam. Há uma tentação de viajar no infinito”, garantiu o autor francês. “Temos a sensação de que já não estamos num espaço humano, mas cósmico”, observou. “Putin diz que a Rússia não tem fronteiras e que tudo respira. É um espaço infinito”, acrescentou. “Temos dois grandes países cosmistas: a Rússia e os Estados Unidos, que acham que a sua vocação é dominar o espaço.”
A propósito de imortalidade e de ressurreição dos mortos, que obrigaria a explorar outros planetas e a lua, Paulo Portas considerou que, “em termos geopolíticos, há muitos loucos à solta e não me parece que haja tempo para uma empreitada dessas [imortalidade]”. “Há corridas muito violentas para tentar alterar a ordem internacional e uma privatização e democratização da corrida ao espaço. Hoje, vão ao espaço países como os Emirados Árabes Unidos, a Índia, o Japão e a China.”
“A ideia de criar um homem novo é do fascismo, do nazismo e do comunismo”, comentou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros. “A inteligência artificial é porventura o desenvolvimento mais vertiginoso de todos, mas onde há o maior gap entre os criadores e os decisores”, alertou. “Depois do chatgpt, já nasceu um milhar de aplicações semelhantes, nos Estados Unidos. Estamos num ponto em que aparentemente o humano perde o controlo.”
Questionados pela moderadora Bárbara Reis se a vida eterna seria boa na terra, Paulo Portas disse que acreditava na vida depois da morte, mas não na terra. “Prefiro um bom filme que dura uma hora e meia do que uma série com sete temporadas, o que é insuportável”, respondeu o autor francês.